‘Sankofa & Afrofuturismo’, primeira exposição de artes gráficas de Délcio Caiaia
Inaugura no próximo dia 21 de Julho a exposição “Mirages and Deep Time” nas Galerias Municipais – Galeria Avenida da Índia, em Lisboa, que reúne obras de Mónica de Miranda, com curadoria de Azu Nwagbogu.
Patente até 25 de Setembro de 2022, “Mirages and Deep Time” contém obras inéditas de Mónica de Miranda, cuja prática informada pela pesquisa investiga as convergências entre política, identidade, género, memória e lugar através de geografias de afeto, arqueologias urbanas, narrativas pós-coloniais e estratégias artísticas de subversão.
A exposição circunscreve os problemas com os tropos descoloniais, é uma busca contínua e não mitigada, que requer hiper-vigilância e sugere uma compreensão dos limites da história aprendida, e dá espaço aos aspetos espirituais e metafísicos sobre o reenquadramento da memória e identidade negra na história portuguesa. Também avança a conversa em direção à natureza e a novas formas de conhecimento na abordagem do maior desafio do mundo contemporâneo em relação as alterações climáticas na era do Antropoceno.
“Mirages and Deep Time” é também composta por trabalhos fotográficos, que exploram várias relações entre feminilidade, natureza e histórias esquecidas por um sistema hegemónico. Expondo um olhar oposto para a história colonial e patriarcal, as obras avançam importantes questões sobre pertença e sobre a construção da identidade na era contemporânea.
As esculturas apresentadas, cobertas por terra e plantas, exploram a metáfora da ilha, a artista vê a terra ou o território como um detentor de memória, história, uma reciprocidade entre presente, passado e futuro. A terra contém dentro dela o tempo e o espaço, visto como matéria que está sempre a mudar, que não é estática.
O filme “A Ilha” apresenta a história de um lugar utópico, que reside no espaço entre a ficção e a realidade, onde as potencialidades para reescrever histórias e pensar o futuro são reunidas através das personagens e das suas viagens. O nome deste lugar, situado entre ficção e a realidade, e uma reapropriação das histórias locais de uma aldeia portuguesa (São Romão de Sádão) chamada “a ilha dos Pretos” durante os séculos XVII e XVIII.
A narrativa visual de Mónica de Miranda gira também em torno de um motivo central: o espelho. Concreto (através do objeto feito) ou natural (por reflexão na água), os espelhos aparecem repetidamente na representação da ilha. Revelando verdades invisíveis e desejos mais profundos, o espelho na obra de Miranda torna-se um intrincado nó polifónico: tanto dobra como desdobra uma narrativa de várias camadas.
Através de um filme e uma série de fotografias, de Miranda utiliza o espelho como um dispositivo estruturante que lhe permite sondar, em toda a sua complexidade e multiplicidade, ideias de identidade (eu e alteridade) e história (passado, presente e futuro potencial). Enquanto o espelho, como motivo, é um tropo bem estabelecido na história da arte, com este projeto de Miranda empreende uma re-apropriação do espelho como uma poderosa forma metafórica contemporânea.
De facto, Miranda não só “recupera o espelho” como um aparelho, mas também subverte o seu significado, recusando-se a olhar para o outro lado, dando origem a uma história contada pelas forças dominantes, o espelho torna-se um epítome de agência. “Há poder no olhar”, como afirmou bell hooks, para Mónica de Miranda, o olhar no espelho rebelde é uma estratégia de olhar e ser olhado com uma agência de pertença.
Sobre a artista
Mónica de Miranda (Porto, 1976) é uma artista portuguesa de origem angolana que vive e trabalha entre Lisboa e Luanda. Artista e pesquisadora, seu trabalho é baseado em temas de arqueologia urbana e geografia pessoal. Trabalha de forma interdisciplinar utilizando desenho, instalação, fotografia, filme, vídeo e som em suas formas expandidas e dentro dos limites entre ficção e documentário.
É cofundadora do Hangar (Centro de Investigação Artística, Lisboa 2014) e em 2019 foi nomeada para o Prémio EDP Novos Artistas (MAAT, Lisboa) e em 2014 para o Prémio Novo Banco de Fotografia. A sua obra está representada em diversas coleções públicas e privadas, nomeadamente: Calouste Gulbenkian, MNAC, MAAT, FAS, Nesr Art Foundation e Arquivo Municipal de Lisboa.
Entre as suas exposições destacam-se: Europa Oxala (CAM, Lisboa; Mucem, França, 2022), Thinking about possible futures,(Biennale del Sur,2021), African Cosmologies, Houston Fotofest (2020), Taxidermy of the future (Biennale Lubumbashi,2019), Architecture and Manufacturing, at MAAT in Lisbon (2019), Tales from the water margins, (Biennale Internationale de l’Art Contemporain de Casablanca,2018); Daqui Pra Frente, Caixa Cultural (Rio de Janeiro and Brasília, 2017-2018); Dakar Biennial in Senegal (2016); Bienal de Casablanca (2016), Addis Photo Fest (2016); Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira (2017), Bamako Encounters – African Biennale of Photography (2015); MNAC (2015); 14th Biennale di Architettura di Venezia (2014); São Tomé e Príncipe Biennale (2013); Estado Do Mundo, Fundação Calouste Gulbenkian (2008), entre outras.
Autor
Koffie Luso
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