Entrevista com Délcio Caiaia, autor do livro “Matriz Africana do Design Gráfico”

O designer gráfico e escritor, Délcio Caiaia, concedeu-nos uma entrevista exclusiva sobre a sua obra literária, “Matriz Africana do Design Gráfico”, que foi lançada no dia 25 de Maio.

O Ebook “Matriz Africana do Design Gráfico – vol 1″, representa a criação gráfica em África, exemplificando símbolos gráficos étnicos desenvolvido por civilizações africanas em tecidos, como a Adinkra (simbologia do Ghana), Bogolan (Mali), e Kente (Tecido do Ghana e Togo).

Segundo o autor, o projecto literário foi criado com o objectivo de contribuir para o crescimento de matérias referentes a África na área de design gráfico.

Délcio Akweto Gomes Caiaia, é angolano, estudante do 3º ano de Arquitectura na Universidade Autónoma de Lisboa, e designer gráfico há 7 anos, fundador da DC Entertainment e Coordenador-Geral da Rede Angolana de Intercâmbio Profissional.

Délcio Caiaia

“Matriz Africana do Design Gráfico” é o seu primeiro livro?

Sim! O primeiro de muitos. O bebé. A Segunda edição tem o lançamento previsto para “Outubro” do ano em curso (essa informação é inédita para a Koffieluso).

O que despertou a sua atenção para escrever sobre o designer gráfico africano? 

A falta de conteúdos e registos teóricos feitos por autóctones. Temos um lugar na arena global e a supressão da nossa história também ofusca esse ponto. É agora, mais que nunca, a hora de Africanos falarem de África.

Também tive como grande fonte de inspiração, o Saki Mafundikwa, um Designer e Tipógrafo Zimbabweano, que escreveu e falou sobre os sistemas de escritas africanos no seu livro publicado em 2004, “The African Alphabets”.

E frisa pelas suas acções, como Designer Gráfico, a necessidade de propagação desse desejo de expressar África visualmente com todo o seu calor, vivacidade, diferencial e imponência. 

O facto de trabalhar há 7 anos em designer gráfico, facilitou de certa forma encarnar o papel de escritor?

Facilitou! Na verdade o ADN da partilha de conhecimento, da pedagogia e dos registos escritos me é familiar. Antes que fosse Designer Gráfico ou me reconhecesse como tal.

Algum familiar nessa área?

Sim! Um dos meus irmãos é autor de livros que abordam temas direito, sobretudo de Direito Comercial. Tem, até o momento, 2 obras publicadas e a Terceira prevista para meados de Junho.

Neste primeiro volume, falou de simbologias usadas no Ghana, Mali e Togo. Teve algum critério de escolha em relação as simbologias e os Países?

Foquei-me nos tecidos “Adinkra, Bogolan e Kente” e nalguns símbolos presentes nestes tecidos.

Na verdade, foi definido como critério inicial trabalhar com os tecidos (símbolos existentes nos mesmo), nomeamos os tecidos mais famosos de África e para a primeira edição focamos nestes 3.

Nas próximas edições vamos falar das simbologias existentes nos demais.

Será que no próximo volume iremos ter algo sobre Angola ou outro País dos PALOPs?

Sim, na próxima edição “já teremos Angola”. 

Angola, África do Sul, Nigéria e Cabo Verde!

Diria que o livro é exclusivo para designers e estudantes nessa área?

Certo! É o publico alvo. Importa referir que é o primeiro em Angola (por ser angolano) e o segundo em África escrito por um africano.

 

Onde entra a arquitectura na sua vida? Porquê decidiu apostar na formação em arquitectura, em vez do design gráfico?

Sou abençoado e tenho muitos hobbies e inclinações para a Arte. Desde a Música (sou compositor, canto, toco piano e guitarra), Desenho, Comunicação (fiz Rádio e colaborei com programas televisivos como analista social e Designer), Pintura, Design Gráfico e vejo que tudo isso converge na Arquitectura. Por um lado!

Por outra, torna-se imperioso hoje, especializar-me como Designer, mas, confesso já que não seria Design Gráfico, mas, Design de Superfície. Não obstante a experiência a especialização é importante. Ou seja, “o papel também é importante”.

Quais os próximos passos? Quantos volumes pretende lançar?

As outras edições, para este projecto. As próximas edições já terão co-autores de diversas partes do continente. Profissionais que decidiram abraçar a visão e a causa.

Sobre Designer ainda vou lançar mais 2 obras Literárias.

Para além do Projecto. A próxima de minha autoria sai em Setembro, antes da segunda edição do matriz africana.

E no próximo Ano em Junho a outra. Ainda é prematuro revelar os títulos. Só vou beliscar dizendo que um falara sobre “mimetismo” e o outro terá um carácter motivacional (para Jovens Designers).

 

Estamos no final da entrevista, parabéns pelo projecto. Deseja acrescentar alguma coisa?

MATRIZ AFRICANA DO DESIGN GRÁFICO não é projecto literário que vem desvalorizar e promover a intolerância aos trabalhos de outros profissionais de Design no Mundo. Ele vem contribuir para a SOBREVALORIZAÇÃO do tecido artístico africano. Que os africanos não o tenham como uma arma de apologia à intolerância, mas, que a percebam como inclusiva, de África para o mundo.

Sigo isso, porque levantaram-se críticas sobre a existência de imagens de “brancos no e-book” como se o e-book não fosse inclusivo. Peço especial atenção aos autóctones sobre isso.

Por fim, todas as edições serão lançadas em formato digital inicialmente, depois, lançaremos um livro final que será a compilação de todas as edições, e será traduzido para o inglês, francês, e dentro do possível para alguns idiomas africanos.

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